domingo, 21 de junho de 2009

1376. PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL (102)

O Palácio Nacional de Mafra recriou hoje pela primeira vez a ocupação das tropas francesas para assinalar o bicentenário das invasões francesas, recorrendo a uma centena de voluntários que deram vida a várias encenações. “É a maior recriação histórica no palácio com 111 figurantes”, disse à Lusa Ana Catarina Sousa, arqueóloga e uma das coordenadoras da iniciativa, que teve uma assistência de cerca de duas mil pessoas. “Quisemos mostrar novos espaços do palácio que não estão abertos ao público, como o refeitório dos frades, e dar a conhecer através de animação histórica um período marcante da História de Portugal em que Mafra desempenhou um papel de destaque uma vez que o palácio foi o quartel-general do exército francês”, explicou. Uma centena de voluntários, dos 5 aos 80 anos e das mais variadas profissões, dão corpo às várias encenações, sempre trajados à época e adoptando o próprio estilo de vida e a linguagem de figuras. José Duarte, 46 anos, electricista, já não é a primeira vez que entra em encenações históricas, mas pela primeira vez se veste de soldado francês, tendo como função fazer a contagem dos bens saqueados aos portugueses. Entre 8 de Dezembro de 1807 e 31 de Agosto de 1808, “foram nove meses difíceis para o povo de Mafra, porque todos os mantimentos e colheitas foram confiscados e houve saques nomeadamente nas igrejas”, recorda Ana Catarina Sousa. Serralheiro de profissão, José Fernandes, 39 anos, está já habituado a desempenhar a personagem de Junot, a quem a todos devem subserviência e que se entretém com a esposa Laura Permont (Adelaide Santos, 31 anos, gerente comercial numa retrosaria) a receber elementos da nobreza e a ouvir música e beber. “Já participo nas recriações históricas há cinco anos e quando não faço de Laura faço de francesa detestada pelos portugueses”, conta Adelaide Santos. Outros soldados franceses treinam para o combate ou executam pessoas à morte, enquanto, ferradores e moços de estrebaria preparam os cavalos.

Na rua uma mulher do povo, “Maria das Dores” (Fátima Caracol, 53 anos, professora) grita: “Malvados dos franceses que me levaram o boi e tudo o que tinha”. Ao lado, a jovem Joana Azeiteiro, de 11 anos, faz de pedinte, com uma caneca vazia na mão, depois de os bens dos seus pais terem sido levados pelos franceses. Numa outra cena, Mafalda Jacinto, 21 anos e estudante de Enfermagem, é uma das mulheres de companhia nos momentos de lazer dos soldados franceses, servindo-lhes as refeições e jogando com eles, ao mesmo tempo que tentam escapar das tentações destes homens. Enquanto uns figurantes retratam a revolta do povo, outros trajam-se a frades, recriando cenas do quotidiano, como momentos de oração, preparação das refeições e de medicamentos e tratamento dos enfermos.

Fonte: Lusa.

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