quinta-feira, 23 de abril de 2009

1121. COLECÇÃO SALGUEIRO MAIA


A célebre Bula, a chaimite que transportou Marcello Caetano e dois dos seus ministros no momento que simbolizou a capitulação do Estado Novo, em 25 de Abril de 1974, serve de prelúdio ao "museu" da Cavalaria, "reinstalado" no quartel de Abrantes. Na fachada do edifício, um painel evoca Salgueiro Maia, o homem que há 35 anos chefiou a coluna que, na madrugada de 25 de Abril, saiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, rumo a Lisboa, onde participou em momentos decisivos da Revolução, como o do ultimato ao chefe do Governo de então. Salgueiro Maia é o patrono da "Colecção Visitável da Cavalaria Portuguesa" que, desde sexta-feira passada, pode ser visitada no quartel de Abrantes, para onde se mudou a Escola Prática de Cavalaria (EPC) em Novembro de 2006. Não podendo ser classificado como museu à luz da actual legislação, o edifício permitiu reorganizar espacialmente a colecção que estava reunida no antigo ginásio da EPC em Santarém, seguindo uma lógica cronológica que se inicia na Pré-História e acaba nas participações da Cavalaria nas operações de paz internacionais. "Esta colecção tem origem na década de 1980 em recolhas que o tenente-coronel Salgueiro Maia foi fazendo sobre os meios que a Cavalaria possuía, como viaturas blindadas, uniformes, armamento e arreios", disse à Lusa o responsável científico da mostra, tenente-coronel Amado Rodrigues. Os materiais recolhidos e cuidadosamente etiquetados e inventariados por Salgueiro Maia foram alvo de uma "programação científica" inaugurada em 17 de Abril (dia da Arma) de 2005, em Santarém. Com a saída da EPC de Santarém, as peças vieram para Abrantes, ocupando agora um dos edifícios do quartel, num projecto que não está ainda terminado já que, aos 13 capítulos repartidos por oito compartimentos, se há-de juntar uma sala multimédia, uma loja e o museu do arreio (este à espera do edifício provisoriamente ocupado pelos alunos da escola de primeiro ciclo da Chainça). Guiados por um friso cronológico, colocado frente às salas, os visitantes contactam com os primeiros instrumentos bélicos (réplicas) e as primeiras alusões ao uso do cavalo (nomeadamente figuras rupestres), são confrontados com a importância da cavalaria na consolidação do território (alusões à conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques e à Batalha de Aljubarrota). A participação da Cavalaria na conquista de novos territórios e na Guerra da Restauração da Independência, o envolvimento na Guerra Peninsular e do patrono da Arma, Mouzinho de Albuquerque, nas campanhas do Ultramar são outros elementos presentes. Uma trincheira da I Guerra Mundial, numa sala onde ecoam os tiros e os sons dos bombardeamentos e onde os visitantes podem "vestir a pele" de soldado na defesa da trincheira, os primeiros equipamentos motorizados, a participação da cavalaria em eventos equestres, nomeadamente nos Jogos Olímpicos, ou na guerra colonial, com destaque para os "Dragões de Angola", constituem outros pontos de interesse da exposição. A última sala evoca a participação da Cavalaria no 25 de Abril de 1974, com uma imagem gigante da Bula e a presença de objectos como o megafone (réplica) que Salgueiro Maia usou no quartel do Carmo para gritar a famosa frase: "10 minutos, meus senhores, têm 10 minutos para que todos os homens saiam de braços no ar e desarmados". A visita termina com imagens e referências à participação da Arma em missões internacionais, nomeadamente na Bósnia, Kosovo e Timor-Leste. Para o comandante da EPC, coronel Amaral, a abertura da exposição constitui um passo importante na ligação da unidade à comunidade local, frisando que o espaço está aberto ao público. A colecção pode ser visitada às segundas à tarde e de terça a quinta-feira (09:00/12:30-14:00/17:00), sendo necessária marcação prévia às sextas-feiras, fins-de-semana e feriados.

Fonte: Lusa.

2 comentários:

Maria disse...

Merecida homenagem, a um Homem valente, digno e honesto.
A sua morte prematura, foi um grande desgosto para quem o estimava e eram muitos. Para Ele, talvez tivesse sido bom. Pelo menos, não viu o estado a que o país, que tão bravamente ajudou a libertar, chegou.
Acho que Salgueiro Maia, não iria gostar nada, do que hoje se passa.
Que Deus o guarde.
Para aqueles que o conheceram e estimaram, resta a Saudade profunda, de um grande Português, que um dia nos fez sonhar, com um Portugal diferente.

Maria disse...

E eu por aqui não sabia de nada...
Vou tentar ir visitar