sábado, 7 de novembro de 2009

1948. PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL (168)

Letras, antropónimos, cruzes de Santa Maria, um rosto humano ou uma cegonha são alguns dos muitos “graffiti” que ilustram há 500 anos as paredes interiores e exteriores do Mosteiro da Batalha, monumento Património Mundial da UNESCO desde 1983. “É precisamente baseado mais no tipo de letra que surge que nos leva a afirmar que estes ‘graffiti’ não serão seguramente posteriores à segunda metade do século XVI”, explicou à Lusa o director do mosteiro, Júlio Órfão. Advertindo que nesta matéria há “mais hipóteses do que verdades adquiridas”, Júlio Órfão realçou, contudo, “alguns avanços” no estudo dos “graffiti”, resultado do trabalho de historiadores de que destacou Saul António Gomes e Jorge Estrela. Segundo o responsável, estão identificados dois grupos de “graffiti” no mosteiro. “Um conjunto localizado sobretudo no Claustro Real e um pouco por todo o monumento, também no exterior, nas Capelas Imperfeitas”, disse, acrescentando que terão sido desenhados “provavelmente com um ponteiro, talvez de argila, em que deixa o dióxido de ferro no calcário branco e brando, que depois vai tomando esta tonalidade avermelhada”. E se estes são os mais antigos do mosteiro, o mesmo não se poderá dizer dos “graffiti” que habitam o Claustro de D. Afonso V. “É um conjunto de pedras de traçaria, em que o ‘graffiti’ já nos aparece bem gravado”, esclareceu Júlio Órfão, anotando que estes últimos serão posteriores ao século XVI. Admitindo que as imagens tenham sido executadas pelos trabalhadores do monumento, Júlio Órfão adiantou que nesta matéria aqueles dois historiadores divergem “relativamente aos grupos etários e até às categorias profissionais” que as fizeram. Citando Saul António Gomes, referiu que “seria aceitável referenciar estes ‘graffiti’ como apontamentos basicamente juvenis”. Já o investigador Jorge Estrela, “até pela associação que faz da figura de muitos barcos a técnicas da construção naval - a parte inferior dos barcos é muito semelhante em alguns casos com as abóbadas do monumento - provavelmente estará a referir-se a um tipo de trabalhador mais maduro e com alguma experiência profissional”. Além dos “graffiti”, que Júlio Órfão afirma reproduzirem “algo que está, de certa maneira, associado ao monumento, à sua construção ou até às suas vivências”, o monumento está igualmente ilustrado por “marginália”. Tratam-se de imagens que “teriam o mesmo significado aparecerem no Mosteiro da Batalha ou noutro monumento qualquer”, referiu o responsável, que destaca, pelo seu número, os barcos ou as naus que ilustram outras tantas paredes exteriores e interiores do monumento. Para Júlio Órfão, antes, como agora, os “graffiti” são “um fenómeno de cultura marginal”, feitos em “sítios menos apropriados” ou nos “sítios possíveis”, como sucedeu no monumento. O responsável sustenta ser “possível e desejável” mais estudos sobre os múltiplos desenhos que o monumento apresenta, justificando que “o mosteiro tem muita coisa descoberta, mas uma grande maioria ainda por descobrir”.
Fonte: Lusa.

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