A situação do Cante Alentejano é debatida hoje, sexta-feira, na vila de Cuba (Beja), no primeiro encontro do projecto "em.cantos", que vai percorrer o Baixo Alentejo até Julho de 2010.
Dedicado aos "Encantos do Cante Alentejano", o debate, agendado para a Igreja do Carmo, a partir das 18:00, será moderado por Ana Paula Figueira, professora do Instituto Politécnico de Beja (IPB) e coordenadora do projecto "em.cantos". Na iniciativa vão participar o antropólogo Paulo Lima, o realizador de cinema e autor do documentário "Canto a Vozes", Francisco Manso, o padre e especialista em Cante Alentejano, António Cartageno, e o presidente da Câmara Municipal de Cuba, Francisco Orelha. Segundo Ana Paula Figueira, o debate vai "enfatizar o presente e o futuro do Cante Alentejano e dos grupos corais" e identificar os objectivos e as estratégias a curto, médio e longo prazo para "assegurar a continuidade e a preservação" deste cantar típico do Alentejo. O "em.cantos", promovido pelo IPB em parceria com o Governo Civil, todas as câmaras municipais e duas rádios do Baixo Alentejo, integra 14 encontros temáticos, um em cada concelho do distrito de Beja.
Através dos encontros, os parceiros pretendem "falar, de forma diferente, das potencialidades da região e, desta forma, destruir a interioridade, reinventando-a", explicou à Lusa Ana Paula Figueira. Os encontros terão lugar em locais de património histórico edificado, como igrejas, museus ou ruínas, "onde vulgarmente não se realizam" iniciativas deste género, precisou a responsável. Em cada encontro, acrescentou, vai ser debatido um tema "estreitamente ligado" ao concelho que acolhe o debate, mas "transversal a todo o Baixo Alentejo".
O parque eólico de Almodôvar, a importância do património histórico edificado no Baixo Alentejo, os desafios e riscos da fronteira, a conservação da biodiversidade, as minas de Aljustrel, o rio Guadiana, o porco alentejano, a gastronomia e turismo da região e "a trilogia mediterrânica: pão, azeite e vinho" são outros dos temas já escolhidos para encontros. "Reconstruir o interior destruindo a interioridade" será o tema em discussão no último encontro do "em.cantos", em Beja, em Julho do próximo ano. Com a maioria dos grupos corais envelhecidos e uma juventude que prefere as músicas comerciais, o cante alentejano procura resistir e incorporar novos temas que retratem um Alentejo também em mudança.
As modas típicas do Alentejo, que outrora se ouviam nas tabernas e nos campos da região pelas vozes de trabalhadores rurais, actualmente são cantadas "por carolice" e sobretudo por grupos corais "envelhecidos", disse hoje à agência Lusa Joaquim Soares, director da Moda - Associação do Cante Alentejano. O envelhecimento dos grupos corais "é um dos grandes problemas do Cante Alentejano", frisou, precisando que a maioria dos quase 60 grupos associados da Moda é constituída sobretudo “por homens entre os 50 e os 70 anos". "Também há muitas mulheres, mas com idades avançadas. Algumas integram grupos mistos, mas a maioria canta em grupos femininos", continuou, frisando que, no entanto, "há vários grupos corais com gente nova".
"Há sempre rapaziada nova a aproximar-se dos grupos. Rapaziada que viveu os 20 anos a perder noites nas discotecas e a ver nascer as auroras e só numa fase mais adulta despertou para o Cante Alentejano", disse Joaquim Soares. O problema são “os conflitos de gerações", lamentou o dirigente, explicando que "os mais velhos, por exemplo, não aceitam no grupo um jovem com um brinco na orelha" e os mais novos, a chamada "geração mp3", encaram o Cante Alentejano como "a música dos velhos" e "preferem músicas mais fáceis e comerciais". A sobrevivência do Cante Alentejano "tem um grande desafio pela frente: mudar as mentalidades dos mais velhos, dos jovens e dos responsáveis políticos", defendeu Joaquim Soares.
"É preciso que os mais velhos aceitem os mais novos com entusiasmo e sem complexos e, em contrapartida, os jovens têm que se interessar pelo Cante Alentejano", disse, defendendo o ensino das modas nas escolas e nos conservatórios da região, para que as novas gerações "aprendam o cantar típico da sua terra como aprendem outras músicas". Esta foi, precisamente, a fórmula aplicada por Pedro Mestre, "mentor" do projecto pioneiro que, em 2007 introduziu o ensino do cantar tradicional alentejano nas escolas básicas do concelho de Almodôvar. Desde então, Pedro Mestre, 24 anos, membro e ensaiador de vários grupos corais alentejanos, ensina aos seus alunos as modas de Cante Alentejano nas aulas extracurriculares de Educação Musical. "Senão fizermos nada, o Cante Alentejano, que já é quase um defunto", vai entrar nos cuidados paliativos e na próxima geração poderá já não ser cantado como é actualmente, por grupos corais que se reúnem por paixão e carolice", reforçou o padre António Cartageno, que estudou este género de música.
"Preservar o Cante Alentejano é respeitar aquilo que os nossos antepassados nos legaram", frisou o pároco, corroborado por Joaquim Soares, que defendeu ainda a “renovação do cancioneiro tradicional alentejano". O Cante Alentejano "é rústico, nostálgico e de inspiração popular" e "uma espécie de crónica da vida do povo nos campos do Alentejo", na qual a ruralidade, o trabalho, a natureza, a saudade de quem partiu e o amor "são os temas fortes", explicou António Cartageno.
"Mas o Alentejo mudou. É preciso incorporar novos temas que espelhem a nova realidade do povo alentejano", defendeu o padre. Para tal, “serão necessários novos poetas e músicos populares para construir um novo cancioneiro e manter vivo e actual e perpetuar o Cante Alentejano", rematou Joaquim Soares.
Fonte: Lusa.
Dedicado aos "Encantos do Cante Alentejano", o debate, agendado para a Igreja do Carmo, a partir das 18:00, será moderado por Ana Paula Figueira, professora do Instituto Politécnico de Beja (IPB) e coordenadora do projecto "em.cantos". Na iniciativa vão participar o antropólogo Paulo Lima, o realizador de cinema e autor do documentário "Canto a Vozes", Francisco Manso, o padre e especialista em Cante Alentejano, António Cartageno, e o presidente da Câmara Municipal de Cuba, Francisco Orelha. Segundo Ana Paula Figueira, o debate vai "enfatizar o presente e o futuro do Cante Alentejano e dos grupos corais" e identificar os objectivos e as estratégias a curto, médio e longo prazo para "assegurar a continuidade e a preservação" deste cantar típico do Alentejo. O "em.cantos", promovido pelo IPB em parceria com o Governo Civil, todas as câmaras municipais e duas rádios do Baixo Alentejo, integra 14 encontros temáticos, um em cada concelho do distrito de Beja.
Através dos encontros, os parceiros pretendem "falar, de forma diferente, das potencialidades da região e, desta forma, destruir a interioridade, reinventando-a", explicou à Lusa Ana Paula Figueira. Os encontros terão lugar em locais de património histórico edificado, como igrejas, museus ou ruínas, "onde vulgarmente não se realizam" iniciativas deste género, precisou a responsável. Em cada encontro, acrescentou, vai ser debatido um tema "estreitamente ligado" ao concelho que acolhe o debate, mas "transversal a todo o Baixo Alentejo".
O parque eólico de Almodôvar, a importância do património histórico edificado no Baixo Alentejo, os desafios e riscos da fronteira, a conservação da biodiversidade, as minas de Aljustrel, o rio Guadiana, o porco alentejano, a gastronomia e turismo da região e "a trilogia mediterrânica: pão, azeite e vinho" são outros dos temas já escolhidos para encontros. "Reconstruir o interior destruindo a interioridade" será o tema em discussão no último encontro do "em.cantos", em Beja, em Julho do próximo ano. Com a maioria dos grupos corais envelhecidos e uma juventude que prefere as músicas comerciais, o cante alentejano procura resistir e incorporar novos temas que retratem um Alentejo também em mudança.
As modas típicas do Alentejo, que outrora se ouviam nas tabernas e nos campos da região pelas vozes de trabalhadores rurais, actualmente são cantadas "por carolice" e sobretudo por grupos corais "envelhecidos", disse hoje à agência Lusa Joaquim Soares, director da Moda - Associação do Cante Alentejano. O envelhecimento dos grupos corais "é um dos grandes problemas do Cante Alentejano", frisou, precisando que a maioria dos quase 60 grupos associados da Moda é constituída sobretudo “por homens entre os 50 e os 70 anos". "Também há muitas mulheres, mas com idades avançadas. Algumas integram grupos mistos, mas a maioria canta em grupos femininos", continuou, frisando que, no entanto, "há vários grupos corais com gente nova".
"Há sempre rapaziada nova a aproximar-se dos grupos. Rapaziada que viveu os 20 anos a perder noites nas discotecas e a ver nascer as auroras e só numa fase mais adulta despertou para o Cante Alentejano", disse Joaquim Soares. O problema são “os conflitos de gerações", lamentou o dirigente, explicando que "os mais velhos, por exemplo, não aceitam no grupo um jovem com um brinco na orelha" e os mais novos, a chamada "geração mp3", encaram o Cante Alentejano como "a música dos velhos" e "preferem músicas mais fáceis e comerciais". A sobrevivência do Cante Alentejano "tem um grande desafio pela frente: mudar as mentalidades dos mais velhos, dos jovens e dos responsáveis políticos", defendeu Joaquim Soares.
"É preciso que os mais velhos aceitem os mais novos com entusiasmo e sem complexos e, em contrapartida, os jovens têm que se interessar pelo Cante Alentejano", disse, defendendo o ensino das modas nas escolas e nos conservatórios da região, para que as novas gerações "aprendam o cantar típico da sua terra como aprendem outras músicas". Esta foi, precisamente, a fórmula aplicada por Pedro Mestre, "mentor" do projecto pioneiro que, em 2007 introduziu o ensino do cantar tradicional alentejano nas escolas básicas do concelho de Almodôvar. Desde então, Pedro Mestre, 24 anos, membro e ensaiador de vários grupos corais alentejanos, ensina aos seus alunos as modas de Cante Alentejano nas aulas extracurriculares de Educação Musical. "Senão fizermos nada, o Cante Alentejano, que já é quase um defunto", vai entrar nos cuidados paliativos e na próxima geração poderá já não ser cantado como é actualmente, por grupos corais que se reúnem por paixão e carolice", reforçou o padre António Cartageno, que estudou este género de música.
"Preservar o Cante Alentejano é respeitar aquilo que os nossos antepassados nos legaram", frisou o pároco, corroborado por Joaquim Soares, que defendeu ainda a “renovação do cancioneiro tradicional alentejano". O Cante Alentejano "é rústico, nostálgico e de inspiração popular" e "uma espécie de crónica da vida do povo nos campos do Alentejo", na qual a ruralidade, o trabalho, a natureza, a saudade de quem partiu e o amor "são os temas fortes", explicou António Cartageno.
"Mas o Alentejo mudou. É preciso incorporar novos temas que espelhem a nova realidade do povo alentejano", defendeu o padre. Para tal, “serão necessários novos poetas e músicos populares para construir um novo cancioneiro e manter vivo e actual e perpetuar o Cante Alentejano", rematou Joaquim Soares.
Fonte: Lusa.
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