sexta-feira, 26 de junho de 2009

1395. PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL (108)


Apenas os cafés mais carismáticos resistem ao passar dos séculos nas principais cidades portuguesas, seja porque as gerações de cliente não se renovam seja porque o culto da “bica” e dois dedos de conversa tenha mudado de poiso. Nalguns casos, as caras dos estabelecimentos fizeram retoques de cosmética para actualizar a imagem mas outros a memória de outros tempos permanece inalterada. Em Março, a Brasileira de Braga reabriu ao público quando comemorava 102 anos de vida mas manteve o carisma de outros tempos, actualizado com obras de restauração e modernização, que incluíram a criação de duas novas salas no andar superior.
O estabelecimento continua com a frequência habitual. De manhã, reformados, turistas e profissionais liberais, uma clientela que à noite é substituída por intelectuais, professores, artistas, jornalistas, músicos e empresários.

O café havia fechado as portas em Setembro de 2008 para obras, no âmbito de um acordo com a ASAE (Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica), que exigia a renovação da copa e da cozinha. No Estado Novo, A Brasileira era frequentada por opositores de António Salazar, pelo que foi criado um novo estabelecimento, a Nova Brasileira, para satisfazer a procura de simpatizantes do regime. Mais a sul, em Lisboa, a História atribui o lugar de honra ao Café Restaurante Martinho da Arcada, no Terreiro do Paço, inaugurado em 1778 sob o nome “Café da Neve” (ganhou a actual denominação em 1845, quando foi comprado por Martinho Rodrigues) e ponto de encontro habitual de escritores dos séculos XIX e XX, como Fernando Pessoa.

Ainda hoje o poeta tem reservada a sua mesa, onde escreveu parte da sua obra, e os visitantes podem ver um poema escrito pelo próprio num menu. “O Fernando Pessoa é sempre uma referência e nós alimentamos esses espírito, fala-se sobre ele de manhã à noite, nem que seja em conversa…de café. Há muito turismo ligado a ele, aliás, hoje o Martinho sobrevive pelo turismo cultural, com muitos estrangeiros e escolas”, conta à Lusa António Sousa, proprietário do “resistente” estabelecimento há vinte anos. O responsável lamenta que a “aguda” crise económica sentida há anos no país e, em particular, na Baixa lisboeta, tenha atingido um pouco o histórico café: “Agora que a crise é internacional, também a sentimos. Em vinte anos nunca senti uma crise do turismo cultural, mas está muito latente”. Na Baixa de Coimbra, impõe-se pela sua arquitectura de estilo manuelino o café Santa Cruz, junto à igreja do mesmo nome, Panteão Nacional onde está resultado o rei fundador da nacionalidade, D. Afonso Henriques. Inaugurado em 1923, o café Santa Cruz é considerado o mais antigo da cidade, depois de terem desaparecido, nos últimos anos, históricos concorrentes como A Brasileira e Arcádia, também eles cafés do século XX, embora de criação mais tardia.

Segundo o gerente, Victor Marques, o primitivo café-restaurante Santa Cruz “fazia concorrência directa” a outros cafés luxuosos da época, como o Majestic, no Porto, e A Brasileira, em Lisboa. Durante décadas, o Santa Cruz teve colado o rótulo de “café dos unionistas”, os adeptos do popular clube de futebol União de Coimbra, enquanto os academistas frequentavam mais os cafés da zona do largo da Portagem, em especial o Arcádia. “Nos dias que correm, é o único café onde nos sentimos bem. Os empregados são muito simpáticos e o ambiente é esplêndido”, afirma Joaquim Santana, ferrenho “academista” que não se importa de frequentar território adversário.

A Lusa não se devia ter esquecido do mítico Paraíso de Tomar!

Fonte: Lusa.

1 comentário:

Unknown disse...

Bom dia.

Absolutamente de acordo.

"...Panteão Nacional onde está resultado o rei fundador da nacionalidade...", obviamente um lapso.