"Vai realizar-se em Tomar um colóquio sobre o surrealismo em Portugal. Curioso, mas em qualquer das notícias vertidas por essa máquina de inteligência activa que dá pelo nome de comunicação social lobriguei o menor interesse pela recepção e ambientação do movimento que do início dos anos 20 à década de 30 se expandiu como um vírus e popularizou a moda dos temas da "psicologia das profundidades". No noticiário só leio salazarismo, regime, censura e resistência. Da luta, terrível, insultuosa, feita das mais soezes calúnias que o PC - então aboletado na casa do neo-realismo - moveu contra os animadores do surrealismo português, nem uma linha. Se houve em Portugal maior inimigo da independência do espírito crítico, da liberdade artística e da abertura às correntes estéticas internacionais, esse não foi o tal "salazarismo", mas o PC, antes e no imediato 25 de Abril. Há que acabar de vez com a ocultação da verdade: aos inquisidores o que é dos inquisidores. O PC e o seu neo-realejo meia-rota, caras chupadas pela tísica e ceifeiras suadas foi a praga que chegou por imposição de Idanov e do seu Cominform cultural e teimou em ficar, apodrecendo nas bancadas, inibindo o mundo artístico português até aos anos 80. Parte apreciável do sub-desenvolvimento das artes e letras - mas também das ciências sociais - deve-se a essa paralisia. "
Miguel Castelo Branco, no Combustões.
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