terça-feira, 26 de maio de 2009

1266. PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL (88)

O ‘mistério’ da idade da ilha do Pico pode estar perto de ser esclarecido com amostras rochosas que atribuem a esta ilha açoriana cerca de 1,2 milhões de anos e não apenas 250 mil, como até agora se pensava. “A ilha do Pico é um mistério para os geólogos, que nunca perceberam muito bem como é que uma ilha jovem apareceu no meio de uma paisagem muito mais antiga”, salientou Vítor Hugo Forjaz, da Universidade dos Açores, em declarações à Lusa. O esclarecimento desta questão começou no ano passado, quando o geólogo alemão Christophe Beier, da Universidade de Nuremberga, na Alemanha, realizou um mergulho junto à ilha do Pico e recolheu algumas amostras. “As amostras foram datadas na Alemanha e, com surpresa, verificou-se que o extremo submarino da ilha tem cerca de 1,2 milhões de anos”, salientou o vulcanólogo português, que dirige o Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores (OVGA). Esta datação já está mais de acordo com o que pensavam os cientistas, atendendo a que as ilhas açorianas “são mais antigas à medida que se avança do Faial para Santa Maria”.

A ilha de Santa Maria é a mais antiga do arquipélago, com cerca de oito milhões de anos, seguindo-se S. Miguel (quatro milhões), Terceira (três milhões), S. Jorge (1,5 milhões) e Faial (800 mil anos). “No meio disto, aparecia o Pico com 250 mil anos, o que era muito estranho”, frisou Vítor Hugo Forjaz. Nesse sentido, a datação desta ilha com cerca de 1,2 milhões coloca-a correctamente entre as idades das várias ilhas do arquipélago, surgindo entre S. Jorge e o Faial. A questão da datação da ilha do Pico assume, segundo Vítor Hugo Forjaz, particular importância em termos de previsão sísmica. Isto porque as ilhas dos Açores “não apareceram onde estão actualmente, foram migrando lentamente para nascente”. “A estrutura da micro-placa dos Açores está a mover-se em direcção ao continente europeu a uma velocidade média de 2,5 centímetros por ano”, salientou o investigador, frisando que este movimento do fundo do oceano “é muito importante para a precisão sísmica”.

A questão da idade da ilha do Pico foi um dos assuntos analisados durante um encontro internacional, que reuniu durante 10 dias nas Lajes do Pico cerca de três dezenas de especialistas de todo o mundo. O encontro, enquadrado nas Conferências Penrose, realizou-se por iniciativa da Geological Society of América, centrado no estudo da origem dos magmas que se encontram sob a crosta sólida dos Açores, as denominadas plumas mantélicas que estarão na origem das ilhas. Durante os trabalhos, o geólogo alemão Christophe Beier revelou que está para breve a divulgação de trabalhos oceanográficos muito recentes que demonstram que o prolongamento submarino do Pico para nascente é o segmento mais antigo da ilha. Este prolongamento, segundo o especialista alemão, terá uma idade muito próxima da que foi indicada para a Fajã de S. João, na vizinha ilha de S. Jorge, que é de cerca de 1,3 milhões de anos. Até agora, a montanha do Pico está datada com cerca de 250 mil anos, segundo as teses de doutoramento de três investigadores portugueses.

Os novos dados apresentados pelo geólogo alemão indicam que a parte mais antiga do Pico terá surgido a mais de 50 quilómetros para poente, em direcção à Crista Média do Atlântico, uma longa falha que se dirige do Pólo Norte para o Pólo Sul e passa entre as ilhas açorianas do Faial e das Flores.

Fonte: Lusa.

Sem comentários: