A aldeia do Colmeal (Figueira de Castelo Rodrigo), sede de freguesia sem habitantes, vai receber a atenção de um grupo de trabalho, que pretende "devolver-lhe vida" e reparar os "danos" resultantes de um caso ocorrido em 1957. Foi naquele ano que uma força de 25 praças e dois oficiais da GNR irrompeu pela aldeia, no sopé da serra da Marofa, para cumprir um mandado judicial de despejo contra 13 famílias, que há séculos povoavam o lugar, em regime de foro, nas "propriedades dos Cabrais". A acção de despejo acusava um antigo feitor, subarrendatário, de não pagar renda há quatro anos à que, segundo uma escritura de 1912, seria a nova legítima proprietária dos terrenos dos herdeiros dos condes de Belmonte. Mais de meio século depois, a Assembleia Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo nomeou um grupo de trabalho para “tratar a sério o problema da célebre aldeia fantasma” do Colmeal, uma vez que, segundo o presidente da Junta de Freguesia, António Salvado, “parece não haver dúvidas que a igreja, o cemitério e uma casa que teria servido de escola e sede de junta de freguesia, são edifícios religiosamente públicos”. Já António Edmundo, presidente da Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo, considera que o Colmeal é um “diamante por lapidar, que tem sido um parente pobre da administração local, para não falar da central”. “Neste momento, o que estamos a fazer é, pouco a pouco, tentar que sejam reconhecidos os bens públicos e as propriedades daqueles que hoje são os filhos e netos dos seus antigos habitantes”, afirma. “A sentença pode ter estado ferida de justiça, quando o interesse de um se sobrepôs ao de dezenas de pessoas”, admite, ao mesmo tempo que deixa críticas à posição assumida pela Igreja na altura do despejo. “Na altura, a Igreja terá sido conivente com a situação e não tomou o partido dos mais fracos, [não] defendendo a sua paróquia como lhe competia”, afirma. “Hoje, é possível que, com o interesse demonstrado pela Diocese da Guarda, a Junta de Freguesia, a Câmara e os actuais grandes proprietários” se encontre uma forma de cada herdeiro das famílias expulsas recuperar uma casa para “ali haver acolhimento”, preconiza. António Edmundo acredita num projecto que possa “levar vida aonde ela não existe” - com o “beneplácito do dono da quinta” - através de uma associação de desenvolvimento local, transformando o Colmeal na "aldeia dos Cabrais", pólo de atracção turística para ser visitado "por milhares de brasileiros, como em Belmonte”. O documento escrito mais antigo sobre este povoado data de 1167 e dá conta da doação «in perpetuum» aos monges da Ordem de São Julião do Pereiro. Ainda hoje se destacam nesta aldeia deserta a casa dos Cabrais, com o seu brasão de armas com duas simples cabras, pois a mãe do descobridor do Brasil, Pedro Álvares Cabral, era filha do Alcaide de Castelo Rodrigo, e a Igreja paroquial, sem telhado, esventrada e já sem pia baptismal.
Fonte: Lusa.
Fonte: Lusa.
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