Passados cem anos, cerca de 80 cavaleiros espanhóis e portugueses voltaram a percorrer a Rota da Lã, através da qual se transportava a matéria-prima de Malpartida de Cáceres, em Espanha, até às fábricas de lanifícios da Covilhã. Os participantes, que nos últimos dias atravessaram a fronteira e percorreram regiões raianas, chegaram hoje ao Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior, onde no século XIX funcionava uma fábrica que era dos principais clientes da lã espanhola, uma vez que a portuguesa não chegava para alimentar a indústria. Hoje, dois fardos de lã voltaram a ser entregues, mas apenas de forma simbólica, no âmbito do projecto “Rota da Lã – Translana”. O projecto comunitário envolve parceiros portugueses e espanhóis e pretende preservar e reactivar as rotas de negócios que eram também caminhos de transumância. “Esta foi uma primeira actividade, a partir de agora pode haver outras, sobretudo turísticas”, disse à Agência Lusa, Rebeca Caballero, presidente da associação de desenvolvimento Tagus, da Extremadura. “Pretendemos não só preservar a nossa história e tradições, mas também fomentar as relações económicas e culturais com a Covilhã, que há cem anos existiam e depois de se perderam”, afirmou. Diversas associações equestres de Portugal e Espanha “quiseram inaugurar esta rota, cujos caminhos, recantos e património que se encontram ao longo do percurso estão catalogados em dois volumes já produzidos no âmbito do projecto”, realçou Elisa Pinheiro, directora do Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior (UBI). “É um projecto turístico e científico”, referiu. Os parceiros esperam agora o salto para uma terceira fase de consolidação de actividades entre instituições dos dois lados da fronteira. A UBI é um apoiante incondicional, dado que tem “um espólio como não se encontra em lado nenhum pelo mundo fora”, declaou o reitor, Manuel Santos Silva, lado-a-lado com a Câmara da Covilhã. “A Covilhã tem uma tradição laneira e ainda hoje um papel importante no sector. Estamos a reabrir esta rota e assim a reabrir um percurso turístico e novos pontos de contacto e comunicação”, acrescentou João Esgalhado, vice-presidente da autarquia. Para chegar ao dia de hoje, houve um trabalho de campo para redescobrir os caminhos que era feitos há cerca de cem anos. “Tivemos que a redescobrir os percursos, pois, com o passar dos anos, já estava tudo muito intrincado”, descreveu José Muñoz, director da associação Tagus. “O mais interessante é que por baixo da rota havia um caminho romano. Ou seja, não inventámos nada. Foi mais uma redescoberta”, que aquele responsável acredita que agora venha a servir o turismo cultural ou de natureza.
Fonte: Lusa
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