domingo, 11 de janeiro de 2009

772. PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL (2)


Começamos esta série com o caso das muralhas de Campo Maior. Terras de Além Tejo, de Rui Nabeiro e de festa das flores. Pois soube-se esta semana que as operações de limpeza e desmatação das muralhas do Castelo de Campo Maior, no distrito de Portalegre, vão começar até Março deste ano. A garantia é do Director Regional de Cultura do Alentejo, José Nascimento. Tal será possível em resultado da assinatura, que s eprevê ocorrer “até ao início do mês de Março” de um protocolo entre a DRCA e a Camara Municipal local, para que se proceda à limpeza e desmatação das muralhas. “Este protocolo vai ser assinado desta forma por nós (DRCA) porque não temos nem equipamento nem mão-de-obra para esse tipo de serviços”, justificou. O lixo acumulado em redor das muralhas, que se encontram em avançado estado de degradação, e o mato que cresce entre as seculares pedras que a constituem são o “cartão de visita” para os turistas que visitam aquela vila alentejana. No interior das muralhas sobrevivem há vários anos, em barracas e carros degradados, mais de duas centenas de pessoas de etnia cigana.

À margem deste processo, os habitantes daquela vila alentejana, consideram que o avançado estado de degradação das muralhas “deve-se aos ciganos” que residem naquela zona e à autarquia que não procede à limpeza do monumento. Em declarações à Lusa, Maria Leonardo Morcela considerou que “as muralhas atraem lixo e estão destruídas graças ao ciganos e à autarquia que não olha por aquele espaço”. A mesma opinião é partilhada por António Molina, assegurando que “as muralhas estão destruídas porque vivem lá os ciganos”. As acusações dos moradores são de imediato contestadas pela maioria da comunidade cigana que vive diariamente sem água, luz eléctrica e esgotos. “Não é verdade, nós não destruímos nada. Já basta a miséria onde vivemos”, garantiu José Soares Romão.

As muralhas foram erguidas na sequência da edificação do Castelo de Campo Maior, mandado construir por D. Dinis, em 1310. O Castelo foi profundamente alterado em meados do século XVII, aquando das guerras da Independência. Mais tarde, D. João V ordenou a sua reconstrução e no século XX o Castelo foi classificado como Monumento Nacional. Na primeira metade da década de 1940, a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais iniciou obras de consolidação e restauro do conjunto. Na segunda metade da década de 1960, realizaram-se intervenções nas muralhas do Castelo e na Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, conhecida também como Igreja de São Sebastião “o Mártir Santo”. De acordo com a DRCA o interior do Castelo foi recentemente alvo de “obras de requalificação” e “provavelmente” abrirá ao público em Março. Outro dos projectos que a DRCA tem delineado para aquele espaço é a abertura de um posto de turismo.
O dia-a dia-entre a comunidade cigana e os vizinhos não é pacífico. A maioria prefere não falar, com medo de represálias, mas sempre vão afirmando que aquela zona é um “inferno”. “A minha mulher está acamada há um ano graças aos ciganos e eu ando sempre em stress”, garantiu José Castanho, que vive a poucos metros do acampamento. “Nós vivíamos tranquilos, mas de há 15 anos para cá é uma rebaldaria. Os assaltos e a destruição das nossas casas são o prato do dia aqui nesta zona da vila”, relatou. A Lusa diz que tentou contactar o presidente do município de Campo Maior, João Burrica, mas as várias tentativas efectuadas ao longo dos últimos dias revelaram-se infrutíferas.

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