segunda-feira, 3 de agosto de 2009

1538. PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL (133)


Centenas de chocalhos, esquilas, cangas, charruas, forquilhas e cabrestos compõem a colecção de peças agrícolas do jovem Luís Lourenço, que criou o seu Museu do Tacão há dez anos, em Vila Boim, uma freguesia rural de Elvas. No período de férias ocupa todo o seu tempo no restauro de "carros de tracção animal". "Onze carroças restauradas e mais seis para restaurar", enumera à agência Lusa o jovem de 23 anos, lamentando, ao mesmo tempo, o facto de "o espaço já não chegar". As carroças recuperadas estão nos silos da freguesia, mas correm o risco de se danificarem", diz. O gosto pelas "coisas antigas" nasceu pelas mãos do avô, que "toda a vida trabalhou no campo". O Luís Lourenço estuda Engenharia Química na vizinha Universidade de Badajoz (Espanha) e reconhece que o seu "hobby" é visto com "surpresa e até estranheza" pelos seus jovens colegas. Já os mais velhos nutrem "admiração" pelo empenho do jovem. "Cá na terra não há outro igual. Tem amor pela tradição, ajuda o pai no restaurante e ainda estuda em Espanha. É um exemplo", diz, com orgulho, o pároco Benjamim, que é um dos sócios da recém criada Associação dos Romeiros de Vila Boim. Vila Boim é uma localidade alentejana com forte tradição no sector agrícola. As antigas gerações trabalharam as terras, agora "abandonadas" na sua maioria. Esta tradição na lavoura deixou um vasto espólio agrícola naquela localidade, que ainda é preservado pela maioria da população. No centro da freguesia, a Lusa encontrou a "Casa Agrícola Alabaça", de Domingos Besugo, hoje com 86 anos. Domingos preserva cada peça agrícola como um pedaço da sua vida "árdua" de outros tempos nos campos "do patrão". "Eu vivi toda a minha vida na agricultura e tenho amor por isto", confessa. Domingos Besugo sabe a história e a utilidade de cada objecto e não evita contestar o "uso exagerado de lancheiras" nos dias de hoje. "Antigamente, passávamos semanas no campo e levávamos o comer em tarros", recorda, ao mesmo tempo que aponta para as centenas de exemplares, de vários tamanhos, que tem expostos na sua Casa Agrícola. "A comida mantinha-se boa", assegura. Domingos é incansável na explicação da utilidade que aqueles objectos outrora tiveram na vida das pessoas. "A minha mãe cosia à luz daquela candeia de azeite. Mais tarde apareceram as candeias a petróleo, que serviam para tratar as bestas nas quadras". Domingos é também um artesão. Foi das suas mãos ágeis e sábias que "nasceram" muitas das réplicas que tem na Casa Agrícola. Um espólio "muito cobiçado" por quem ali passa. "Quando em Olivença (Espanha) fizeram o Museu Rural queriam comprar-me peças, mas eu não vendi. Esta é a minha herança e é nesta terra que têm de ficar", garante. Domingos Besugo (86 anos) e Luís Lourenço (23 anos) são duas gerações de vilaboinenses que partilham o mesmo sonho. Ambos querem um Museu Rural naquela freguesia do concelho de Elvas. "A riqueza do espólio justifica", diz o presidente da Junta de Freguesia, António Pisco Romão. "Tenho pena em ver que os milhares de peças agrícolas preservadas até aqui estejam amontoadas e empoeiradas. Queremos um lugar digno para a nossa história", defende o autarca. Em Vila Boim, a tradição continua a ser o que era. Ainda hoje se comemora o Dia do Ganhão, trabalhador da terra, a 01 de Maio, e se festeja o Dia do Romeiro. Os Romeiros continuam a fazer a sua "peregrinação", ano após ano, transportados em "carros de canudo" quando chegam as festividades do S. Mateus, em Elvas.

Fonte: Lusa.

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