quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

814. PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL (11)


A Associação Olho Vivo critica o projecto de recuperação da Cava de Viriato, uma fortificação defensiva de Viseu, em forma de octógono com dois quilómetros de perímetro, que considera ser “uma armadilha para crianças e adultos”. As obras de requalificação realizadas no âmbito do programa Polis, orçadas em mais de dois milhões de euros, destinaram-se sobretudo aos elementos públicos desde monumento nacional, como o talude em terra, os arruamentos e a praça.

O responsável pelo Núcleo de Viseu da Olho Vivo - Associação para a Defesa do Património, Ambiente e Direitos Humanos, Carlos Vieira e Castro, apontou vários problemas ao projecto da autoria do arquitecto Gonçalo Byrne, nomeadamente “o perigo que representam os intervalos de 15 centímetros entre as lajes de granito” colocadas no cimo da fortificação.

"A Olho Vivo tem conhecimento de vários casos de pessoas, crianças e adultos, que já caíram na Cava de Viriato”, lamentou Carlos Vieira e Castro. Por outro lado, referiu que aqueles intervalos entre as lajes impedem “os portadores de deficiência, quer se desloquem de muletas ou de cadeira de rodas, e os carrinhos de bebé” de circularem. Também aqueles que se deslocam normalmente não têm a vida facilitada, porque ao passearem pelo cimo da fortificação, “terão que olhar mais para o chão do que para a vista do interior e do exterior da muralha”.

Carlos Vieira e Castro não vê vantagens na colocação das lajes de granito, até porque esta fortificação em terra “está de tal modo compactada ao fim de dois mil ou mil anos que, por muito que chova, pode caminhar-se no alto da muralha como se de pedra se tratasse”. Na sua opinião, os problemas apontados não podem ser desculpados com o facto de as obras ainda não terem acabado, “porque se do lado da Avenida da Bélgica ainda não foram retirados os tapumes, a verdade é que quem entra pela Rua do Picadeiro ou pelo novo passadiço aéreo não encontra qualquer obstáculo ou indício de obras”.

A Olho Vivo escreveu no ano passado uma carta à Direcção Regional de Cultura do Centro onde dava conta das suas preocupações e pedia também esclarecimentos sobre o que lhe pareciam ser “aspectos intrusivos de uma intervenção que poderá desvirtuar um monumento único na Península”. “Na resposta, o director regional informou-nos, laconicamente, que ‘os trabalhos em execução constam do projecto apresentado e encontram-se superiormente autorizados e estão incluídos em projecto que foi objecto de apreciação nas áreas de arqueologia e arquitectura paisagista’”, contou.

Carlos Vieira e Castro explicou que o objectivo era chamar a atenção “para a contradição aparente entre esta modernização arquitectónico-paisagista e a evidente preocupação em apagar os vestígios do passeio público construído no século XIX, deitando toneladas de terra para cobrir as escadas e caminhos talhados nos taludes para acesso ao alto da muralha, certamente para repor o seu aspecto original”. Aludiu também a queixas de moradores da Rua do Picadeiro sobre as “luzes colocadas em pilares de granito ao longo da estrada interior da Cava que encandeiam quem circula a pé ou de carro e dificultam as manobras automóveis nalgumas curvas” e de um dos postes ter sido colocado “exactamente na parte mais apertada da rua”.

O presidente da autarquia, Fernando Ruas, escusou-se a comentar as críticas, uma vez que se trata de uma obra do programa Polis. A Cava de Viriato é monumento nacional desde 1910 e está definida no Plano Director Municipal como espaço cultural. Até hoje mantém-se a dúvida se esta fortificação defensiva - constituída por um talude, com um fosso externo – tem mesmo origem romana (século I antes de Cristo) ou se será árabe (século XI depois de Cristo).

Fonte: Lusa
(A conhecida estátua de Viriato na Cava de Viriato)

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