terça-feira, 13 de janeiro de 2009

785. CONFIRMADO


A Câmara Municipal de Tomar vota, no próximo dia 21 de Janeiro, o lançamento do concurso para venda, em hasta pública, do Convento de Santa Iria, local onde a autarquia quer que seja instalado um hotel de charme. O presidente da Câmara Municipal de Tomar, Corvêlo de Sousa (PSD), disse à agência Lusa que o concurso público para venda do edifício será rodeado de “cuidados muito rigorosos”, tendo em conta que os tomarenses são “muito sensíveis” em relação ao que possa ser feito num local fortemente ligado à lenda da cidade. Realçando o local privilegiado em que se encontram os dois edifícios que vão ser postos à venda – o Convento e o antigo Colégio Feminino -, “mesmo em cima da margem do rio” Nabão, num “sítio lindíssimo”, onde ficará “um espelho de água magnifico e jardins espectaculares”, Corvêlo de Sousa afirmou que a construção de um hotel, que preserve o carácter histórico do local, servirá os interesses do concelho. Segundo disse, a venda permitirá, por um lado, repor as verbas dispendidas pela autarquia com a compra do edifício – o valor base do concurso é de 1,5 milhões de euros – e, por outro, dinamizar o centro histórico da cidade, tendo em conta a sua localização, no âmbito da estratégia de potenciação do turismo atraído pelo Convento de Cristo, Património da Humanidade.
A possibilidade de construção de um hotel de charme “com quatro ou cinco estrelas”, com 60 quartos, vai ser divulgada junto de cadeias de hotéis que possuem unidades do género da pretendida agora para Tomar, adiantou. O edifício foi adquirido em 2004 pela autarquia, que exerceu o seu direito de preferência, tendo a parte onde funcionou o antigo Colégio Feminino sido expropriada dado o risco iminente de ruína e de salubridade, adiantou. Os dois edifícios, separados pela rua de Santa Iria, estão unidos por um arco, o Arco das Freiras, que estabelecia a passagem entre casas do Convento situadas nos dois lados da rua. De acordo com a informação constante do site do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), esta não é a primeira vez que o Convento de Santa Iria, situado na margem esquerda do Nabão, no antigo bairro de Além da Ponte (a seguir à Ponte Velha), é colocado à venda em hasta pública. om origens muito remotas – foi em 640 que São Frutuoso, Arcebispo de Braga, fundou dois mosteiros em Tomar, um, dos frades beneditinos, onde se situa a Igreja de Santa Maria do Olival, e outro de religiosas, onde mais tarde foi construído o Convento de Santa Clara, depois de Santa Iria -, o Convento foi vendido em hasta pública em 1836, depois da morte da última freira, a Nepomuceno de Freitas, que realizou grandes obras.
Foi de novo colocado à venda em hasta pública, juntamente com a Igreja, em 1842, tendo tido, a partir daí, vários proprietários e várias utilizações: armazém, hospedaria, fábrica de lanifícios de “mantas de cordão de lã e alforges”, casa bancária, restando apenas o Café de Santa Iria, instalado numa antiga capela ou na antiga casa do capelão das freiras. Este café, alvo de uma recuperação de acordo com um projecto do arquitecto Mota Lima nos finais de 1960 inícios de 1970, constitui, juntamente com a Igreja de Santa Iria, que se mantém na mão de privados, praticamente o que resta de preservado do conjunto. Com partes do monumento classificadas, os edifícios situam-se no local onde, reza a lenda, em 653, sendo Nabância governada pelo Conde Castinaldo, pai de Britaldo, este terá mandado matar Iria, por quem se enamorara, no dia 20 de Outubro, lançando-a ao rio, tendo o corpo aparecido na actual Santa Iria da Ribeira de Santarém.
Iria, filha de Ermenegildo, descendente de Visigodos, e de Eugénia, descendente de romanos, tinha sido confiada aos cuidados das tias Casta e Júlia, recolhidas ou professoras no Convento. De acordo com a resenha histórica do monumento constante no site do IHRU, no século XIV foi mandada erguer uma Capelinha de Santa Iria sobre os túmulos de Casta e Júlia, tendo o local sido comprado, em 1467, por D. Mécia Vaz Queiroz (viúva do antigo vedor da fazenda do Infante D. Henrique) e suas filhas. O Recolhimento de Santa Iria foi reconhecido em 1482, a pedido de uma das filhas de D. Mécia, passando em 1523 a seguir as regras de Santa Clara. O antigo Colégio Feminino terá sido erguido sobre um antigo palácio, mandado construir no século XVI por Pedro Moniz, cujos vestígios foram encontrados em partes da parede do edifício depois do tecto ter ruído, disse à Lusa o arquitecto José Faria, da Câmara Municipal de Tomar. Para José Faria, a opção de venda para construção de um hotel tem na sua base a preocupação de preservar o que resta desta memória e deste monumento, sob o risco de desaparecer por completo.
Fonte: Lusa

2 comentários:

Rui Ferreira disse...

Lucas 23:33

Anónimo disse...

Não sei porquê, mas o Dr Corvêlo faz-me lembrar Ícaro.
Cuidado com a ambição desmedida. Os sonhos acabam de manhã.
E, Eça o disse: "Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia".
Não pense em coisas grandes, mas em coisas possiveis. Conserve o que temos, arranje o que precisa, aproveite os espaços, mas não se meta em cavalarias altas.
Com a maior consideração.
Maria